Segundo o ponto de vista psicológico, “o princípio de globalização” é o que traduz a idéia de que a aprendizagem não se realiza mediante simples adição ou acumulação de novos elementos à estrutura cognitiva do aluno. A aprendizagem significativa é uma aprendizagem globalizada.
Quanto mais globalizado for o aprendizado, maior e mais estável será seu significado para o aluno, mais estável será sua retenção e maior a sua transferência e funcionalidade. Ou seja, pautado no “princípio de globalização”, o professor lida com os “pontos de ancoragem” existentes nas estruturas cognitivas de seus alunos e lhes garante a generalização para outras atividades.
Dessa forma, a ação educativa se torna significativa, posto que pautada em necessidades reais da vida do aluno e em suas reais capacidades cognoscentes: pautando-se em conhecimentos que podem ser resultado de experiências educativas anteriores ou aprendizagem espontânea dos alunos, que podem estar ajustadas ou não às exigências da nova aprendizagem.
Já foi pontuado acima que as atividades educativas escolares têm como finalidade última promover o crescimento pessoal dos alunos, para tanto, o professor deve levar em consideração o que o aluno é capaz de fazer e aprender em um determinado momento e, a depender do estágio de desenvolvimento operatório em que o aluno se encontra e do conjunto de conhecimento que construiu em suas experiências prévias da aprendizagem, construir seu planejamento de ensino.
Para assegurar que a aprendizagem do aluno seja significativa, na qual ele construa a realidade, atribuindo-lhe significados, o professor deve pautar-se em duas condições necessariamente:
• O conteúdo deve ser significativo do ponto de vista da sua estrutura interna e da sua possível assimilação (estrutura lógica e cognitiva).
• O aluno deve estar motivado para relacionar o que aprende com o que já sabe, o que não conseguirá fazer sozinho, mas com a disposição básica do professor em não entregá-lo à sua própria sorte (Cf. Coll, 1997).
Checadas e respeitadas estas duas condições, a funcionalidade deve estar presente, os conhecimentos devem ser usados quando as situações o exigirem. O aluno deve estabelecer relações entre o novo conteúdo e os elementos dispostos em sua estrutura cognitiva. Ressalta-se, neste ponto do texto, o papel da memória na aprendizagem escolar, tão asseverada por muitos, que de forma alguma deve ser mecânica e repetitiva, mas compreensiva, porém, reinar como elemento fundamental da aprendizagem significativa. O aluno estará, portanto, apto a “aprender a aprender”, tornando-se capaz de realizar aprendizagens sozinho. Bruner (1966) adverte que o aluno deve ser ensinado de tal forma que, no futuro, possa continuar aprendendo sozinho. Deve adquirir habilidades como: capacidade de identificar a informação relevante em determinado problema interpretá-la, classificá-la de forma útil, buscar relação entre a nova informação e a adquirida anteriormente etc.
Por “estruturas cognitivas” entende-se o conjunto de esquemas de conhecimento, ou seja, a formulação ou assimilação psicológica, pelo aluno, do que se apresenta a ele.
A modificação dos esquemas dos alunos é o objetivo da educação escolar e, tal tarefa, só se constrói eficientemente quando o aluno “aprende a aprender”. Assim, o professor deve proceder a um inventário e seleção das intenções educativas possíveis e passíveis de serem atingidas e questionar-se sobre: “que aspectos do crescimento pessoal do meu aluno tratarei de promover na escola?”, porém, tais intenções educativas devem ser formuladas por meio de uma redação que seja útil para guiar e planejar sua ação pedagógica.
A multiplicidade de intenções que presidem o planejamento educacional leva à questão da sua organização e seqüenciação temporal. Deste modo, deve ser prevista uma avaliação que permita verificar se a ação pedagógica corresponde adequadamente às intenções perseguidas, questionando-se sobre:
• O que ensinar?
• Como ensinar?
• Quando ensinar o quê?
• Quando e como avaliar?
A pergunta “quando ensinar” deve vir logo depois da pergunta “que ensinar”. As decisões sobre o quando ensinar situam-se em diferentes planos. Em primeiro lugar, à luz do estudo de Coll (1997) temos:
• O plano da Seqüenciação Interciclos: que se refere às decisões relativas à ordenação temporal dos Objetivos Gerais e sua localização nos diferentes ciclos do ensino Obrigatório (por exemplo: O que ensinar para alunos da Educação Infantil de 3 a 6 anos?);
• O plano da Seqüenciação Intraciclos: que se refere às decisões sobre a ordenação temporal, no seio de cada ciclo, dos objetivos e conteúdos das diversas áreas de conhecimento. Dentro deste plano, entretanto, é conveniente destinguir dois aspectos diferentes:
1º) Seqüenciação interníveis: relacionada à ordenação temporal dos objetivos e conteúdos das áreas de conhecimento e sua localização nos diferentes níveis do ciclo (por exemplo: O que ensinar para os alunos da fase I, para os alunos da fase II e para os alunos da fase III em Natureza e Sociedade?);
2º) Seqüenciação intraníveis: que se refere à ordenação temporal dentro de cada nível (por exemplo: O que ensinar para os alunos da fase I, nos 1º e 2º semestres do ano letivo?).
Desta forma, questionando-se sobre a importância dos conteúdos e atividades a serem trabalhados em cada ciclo, para cada idade, em cada área do conhecimento, a cada ano, semestre, bimestre, mês, semana ou dia, o professor terá condições de inaugurar o novo a cada momento, sem a repetição mecânica de ações e procedimentos no seio de sua prática pedagógica e garantindo ao aluno o direito ao “inédito prazeroso” em cada uma das etapas de sua vida escolar.
O Planejamento de atividades
“– Vou ficar sentado aqui até amanhã, ou talvez até depois
de amanhã – comentou o Lacaio”.
Alice no País das Maravilhas -Lewis Caroll
O planejamento de atividades, como o plano de curso, o planejamento de aula, entre outros, possui, também, subdivisões a serem respeitadas (veja quadro 1):
*Área de conhecimento ou abrangência de áreas a que se dirige
*Conteúdo da atividade
*Pré-atividade: Definição de uma situação de classe que anteceda a atividade propriamente dita, ou seja, a forma como o professor introduz a proposta de atividade.
*Consigna: o que é pedido ao aluno que ele faça
*Encaminhamentos durante a atividade: como o professor dirigirá a atividade enquanto ela acontece (orientações didáticas)
*Definição da atividade: de aprendizagem, de diagnóstico ou de avaliação de conhecimentos
*Definição de objetivos:
*do professor
*em relação ao aluno
Tal definição deve considerar três quesitos básicos:
*os conhecimentos prévios do grupo de alunos em relação ao conteúdo da atividade;
*a característica de que aquela atividade possa permitir produções em diferentes níveis;
*as condições que aquela atividade possui de provocar avanços individuais.
*Instrumentos de trabalho (físicos e de organização): pensar na composição do grupo de forma que possam trocar informações da maneira mais produtiva possível. Definir o material a ser usado
*Formas de avaliação/instrumentos de avaliação para aquela determinada atividade.
Depois de realizada, a atividade deve ser registrada - através de um relato reflexivo – e avaliada. A realização desta tarefa pós-atividade pelo professor é fundamental para o planejamento das atividades posteriores. O professor deve fazer uma análise da produção da turma frente ao que foi planejado.
Quadro 1 – itens para o planejamento de uma atividade de ensino
Segundo Raths (1973) em iguais condições, uma atividade é preferível a outra se:
• Permitir ao aluno que tome decisões razoáveis quanto ao modo de desenvolvê-la e verificar as conseqüências de sua escolha;
• atribuir ao aluno um papel ativo em sua realização;
• exigir do aluno uma pesquisa de idéias, processos intelectuais, acontecimentos ou fenômenos de ordem pessoal ou social e estimulá-lo a comprometer-se com os mesmos;
• possibilitar o aluno a interagir com sua realidade;
• puder ser realizada por alunos de diversos níveis de capacidade e com interesses diferentes;
• possibilitar o aluno a examinar, num novo contexto, uma idéia conceito ou lei que já conhece;
• possibilitar que o aluno examine idéias ou acontecimentos que normalmente são aceitos sem discussão pela sociedade;
• colocar o aluno ou educador numa posição de sucesso, fracasso ou crítica;
• possibilitar o aluno a reconsiderar seus esforços iniciais;
• possibilitar o aluno a aplicar e dominar regras significativas, normas ou disciplinas;
• oferecer ao aluno a possibilidade de planejá-las com os resultados obtidos;
• for relevante para os propósitos e interesses explícitos dos alunos.
“ Chegou a hora – disse a Morsa – de falar sobre muitas coisas”.
Alice no país das Maravilhas – Lewis Carroll
“É uma experiência valiosa, unitária, intencional, intensamente auto-motivada e realizada em situação real, cujo objetivo determina os rumos das atividades e guia os seus passos até sua completa realização. Só uma atividade aceita e projetada pelos alunos pode fazer da vida escolar uma vida que eles sintam que vale a pena viver” (Kilpatrick 1974, p. 11).
O Método dos Projetos de Kilpatrick parte de problemas reais, do dia-a-dia do aluno. Todas as atividades escolares realizam-se através de projetos. Originalmente ele chamou de projeto à "tarefa de casa" - "home project" - de caráter manual que a criança executava fora da escola. O projeto como metodologia didática era uma atividade intencionada que consistia em os próprios alunos fazerem algo num ambiente natural, por exemplo: construindo uma horta, poderiam aprender: ciências, linguagem, geometria, desenho, cálculo, história natural etc.
Kilpatrick classificou os projetos em quatro grupos: a) de produção: no qual se produzia algo; b) de consumo: no qual se aprendia a utilizar algo já produzido; c) para resolver um problema e d) para aperfeiçoar uma técnica de aprendizagem. Para ele, um bom projeto didático deveria abarcar as seguintes características: a) ser uma atividade motivada por meio de uma conseqüente intenção; b) caracterizar-se como um plano de trabalho, de preferência manual; c) constituir-se de atividades que impliquem uma diversidade globalizada de ensino; d) ser uma atividade que se dê num ambiente natural. Ainda para Kilpatrick, um bom projeto deveria estar pautado nos três princípios seguintes: a) princípio da situação problemática: o projeto surge de um problema que desperta o interesse do aluno, a ponto dele desejar resolvê-lo; b) princípio da experiência real anterior: em que só a experiência garante o êxito; c) princípio da eficácia social: o projeto deve ser executado em conjunto e para elucidar questões que garantam uma boa convivência (Ibid).
Percebe-se semelhança de pontos de vista entre Kilpatrick (1974) e Hernandez (1996) quanto à categorização de um bom projeto. Para Hernandez (1996) o que “poderia ser” um projeto – numa atitude que trata de manter uma certa coerência com a noção de conhecimento, ensino e aprendizagem veiculada na Metodologia de Projetos – pode ser assim caracterizado: 1) um percurso por um tema-problema que favorece a análise, a interpretação e a crítica (como contraste de pontos de vista); 2) Onde predomina a atitude de cooperação e o professor é um aprendiz e não um perito (pois ajuda a aprender sobre os temas que há de estudar com os alunos); 3) um percurso que busca estabelecer conexões e que questiona a idéia de uma versão única da realidade; 4) cada percurso é singular e se trabalha com diferentes tipos de informação; 5) o docente ensina a escutar: do que os outros dizem também podemos aprender; 6) sobre o que queremos ensinar há diferentes formas de aprender (e não sabemos se aprenderão isso ou outras coisas); 7) uma aproximação atualizada aos problemas das disciplinas e dos saberes; 8) uma forma de aprendizagem em que se leva em conta que todos os alunos podem aprender se encontrarem lugar para isso; 9) por isso, não se duvida que a aprendizagem vinculada ao fazer, à atividade manual e à intuição, também é uma forma de aprendizagem.
Desta forma, a Metodologia de Projetos possibilita desenvolver atividades de ensino e aprendizagem que permitem a contribuição de diversas áreas do conhecimento e favorece a compreensão dos multifacetados aspectos que compõem a realidade. Nesta metodologia, professor e alunos compartilham metas objetivas de trabalho e os conteúdos são organizados em torno de questões que permitem a sua re-significação no interior do processo ensino-aprendizagem.
Alunos e professor têm a possibilidade de aplicar seus conhecimentos prévios sobre determinado tema, buscar novas informações e utilizar os conhecimentos e os recursos construídos a partir de diálogos e pesquisas, atribuindo um sentido amplo ao assunto.
Ao professor, cabe planejar uma série de atividades organizadas e direcionadas para a meta objetiva preestabelecida para que, ao realizá-las, os alunos assumam coletivamente a tarefa de decidir sobre o desenvolvimento do trabalho, bem como, conheçam e discutam a produção de todos os grupos da classe. Faz-se necessário que o professor tenha clareza dos objetivos que quer alcançar, formule claramente as etapas do processo e, portanto, planeje o trabalho a ser implementado.
Devem ser incluídas no planejamento do projeto atividades de “saídas” da escola para “exploração de campo” que possibilite o contato com a realidade “além muros escolares”. A forma de organização dos conteúdos e atividades do projeto, porém, não deve representar aumento de carga horária de alunos ou professores e, tampouco, de atividades extras: ela é a maneira sine qua non para se planejar a tarefa educativa formal.
A culminância do Projeto se dá através da circulação do conhecimento construído na forma de uma atividade de expansão para o meio coletivo, ou seja, para a comunidade escolar. Desta forma, os alunos sabem objetivamente o que e porque estão executando as atividades propostas; aprendem a formular questões investigativas e a transformar dados em informações, informações em conhecimento e, conhecimento em instrumento de ação, ainda que esta ação, aos olhos de outrem, possa parecer meramente recreativa.
Pautado nessa metodologia, o professor procura estabelecer seqüências de atividades e, portanto, de aprendizagem que proporcionem ao máximo a assimilação significativa, por parte dos alunos, dos conteúdos, das atividades e dos objetivos. Desta forma, toma decisões capitais sobre a maneira de planejar, de ensinar e de avaliar – percebendo se os aprendizados prescritos foram realmente atingidos na extensão e profundidade desejadas, no decorrer do processo e não através de situações artificiais de avaliação.
Essa metodologia pretende garantir o respeito às características de cada contexto educativo e às diferenças individuais dos alunos. O critério de individualização do ensino é o ritmo de aprendizagem: alunos mais lentos precisam de mais tempo para aprender e, os mais rápidos, de menos tempo. Torna-se abolida, portanto, a idéia de “intervenções complementares compensatórias” para as dificuldades de origem individual ou social dos alunos (como a prática das aulas de apoio). A verdadeira individualização consiste em adaptar os métodos de ensino às características diferentes dos alunos e, neste particular, a metodologia de Projetos resulta bastante interessante.
Características de um planejamento a partir da Metodologia de Projetos:
*o objetivo é compartilhado por todos os envolvidos;
*há um produto final em função do qual todos trabalham;
*dispõe-se do tempo de maneira flexível;
*os alunos podem tomar decisões a respeito de muitas questões: controle do tempo, divisão e redimensionamento de tarefas, avaliação do resultado em função do plano inicial, entre outras;
*planeja-se situações em que as linguagens oral e escrita se inter-relacionem de maneira contextualizada (leitura e produção de texto);
*planeja-se situações lingüisticamente significativas;
*pode-se envolver ou não diferentes áreas do conhecimento;
*pode-se estabelecer uma intersecção entre conteúdos de diferentes áreas do conhecimento;
*favorece-se o necessário compromisso do aluno com sua própria aprendizagem;
*agrega-se significado à determinadas práticas habituais que não fazem qualquer sentido quando trabalhadas descontextualizadamente, tais como: cópia, ditado, produção de texto coletivo, correção exaustiva do produto final, exigência de ortografia impecável, entre outras.
Assim, sendo respeitadas as características básicas de um planejamento pautado na Metodologia de Projetos e levando-se em consideração a tipologia de conteúdos exposta acima (sugeridos por Coll, 1997), o professor deve se pautar no objetivo de construir com seus alunos um certo “corpo de condutas” – valores, atitudes, princípios, procedimentos, conceitos e fatos – que os faça perceberem quão grandiosa é a tarefa proposta.
Posto que leva em consideração a multifacetada gama de aspectos de que se constitui o sujeito cognoscente: razão, afetividade, sociabilidade e, sobretudo, corporeidade – sem o corpo não há morada para a afetividade, para a cognição ou para a sociabilidade, pois o aluno se apresenta ao mestre através de seu corpo, a partir do qual pensa, fala, toca, gesticula – pois, planejar, é “pré-ver”, é encaminhar, é acompanhar o processo e aguardar – numa “espera impaciente” – o produto: um aluno ciente e consciente do mundo, das coisas do mundo, de como lidar com os outros, com o mundo e consigo mesmo. Assim, organiza o “caos” da existência do aluno ao impor determinados limites, ao mesmo tempo em que o leva a transpor seus limites, numa busca constante pela excelência, acalentando o sonho de poder construir um sujeito que tenha espaço no grupo e que seja capaz de construir seus próprios conhecimentos.
Deste modo, os conteúdos serão significativos, pois o que acontecer em decorrência do planejamento, foi "pré-visto", feito, escolhido, pensado, sentido, analisado e empreendido com base em necessidades reais. Sábio que é, o professor reconhece seu papel de apresentar à criança o espaço público – a res publica – sem feri-la ao apresentar a ela a despedida do espaço privado e a ampliação de horizontes provocada por esta despedida.
Avaliação:
A avaliação foi efetuada durante todo o processo, pois dela dependeu a elaboração dos passos seguintes e os ajustes necessários. Não foi preciso criar situações artificiais de avaliação. Foram elaborados portfólios individuais para que cada aluno pudesse perceber e acompanhar sua própria evolução, este portifólio contou com um “pré-teste” – uma roda de conversa que foi gravada em fita cassete, quando se avaliou o conhecimento prévio dos alunos; atividades gráficas durante o processo – com o registro de execução das diversas tarefas propostas e, no final, com um pós-teste, quando se avaliou o que e como as crianças aprenderam – com gravação em áudio de rodas de conversa que se realizaram no decorrer do projeto. Aproveitou-se, para tanto, a própria situação de aprendizagem e suas diferentes etapas.
Cada aluno teve seu percurso individual e foi respeitado seu tempo para aprender. Procurou-se, portanto, trabalhar com a hipótese de que a avaliação do sujeito é o resultado da soma da análise do processo com a verificação do desempenho de cada um e do grupo.
Corroborando as idéias de Esteban (2001) para quem uma possibilidade de conectar a avaliação ao processo estabelecido pela Pedagogia de projetos é torná-la uma prática de investigação tanto dos processos desenvolvidos como dos resultados apresentados, alunos e professor foram vistos como sujeitos interdependentes para o desenvolvimento do projeto, eivados que são por conhecimentos, desconhecimentos, descobertas, competências e aprendizagens. Possibilitou-se espaço e tempo para as mais diferentes perguntas e dúvidas. Tais elementos indicaram os percursos a serem seguidos de modo a dar continuidade ao projeto e definir sua finalização. Desta forma, não importou muito a atribuição de nota ou conceito, mas a preocupação com a compreensão do processo ensino/aprendizagem visando permitir a ampliação do conhecimento: levando ao encontro do que se revelou, durante o projeto, como desconhecido, necessário, interessante, desejado ou significativo.
Procurou-se compreender como o outro – aluno – compreendia ou aprendia; o que aprendia e o que podia ensinar; como ensinava seus pares; como esclarecia o que já sabia, o que passava a saber ou o que não sabia, não apenas ao final do percurso, mas enquanto realizava as atividades propostas e procurava construir as competências em questão. Entendida como investigação, a avaliação não trabalhou com o objetivo de se chegar a uma única resposta, mas questionando as muitas respostas encontradas e os diferentes caminhos percorridos. Neste panorama, os alunos se sentiram livres para dar as suas respostas, mesmo parciais e provisórias, posto que foram aprendendo, no decorrer do processo, que todas as respostas existentes no percurso de construção de conhecimento da humanidade, também foram parciais e provisórias a seu tempo.
Levou-se em consideração as aprendizagens realizadas pelos alunos durante sua realização em todo o processo e não somente sua performance quando da apresentação do produto final à comunidade escolar.
Culminância (Produto final): degustação dos frutos da horta – hambúrguer com alface e feijoada vegetariana com couve-flor e jornal-mural para informação da comunidade escolar, com o conhecimento construído no decorrer do projeto.
Tabela 1 – Contém os itens de um projeto e o registro do projeto em tela neste artigo
À guisa de conclusão
“– Se isso não tiver qualquer significado,
melhor – disse o Rei – pois não teremos de
nos preocupar em encontrar algum”.
Alice no país das Maravilhas – Lewis Carroll
Procurou-se neste artigo, circular informações sobre a importância do planejamento em educação infantil, sobre a re-significação dos conteúdos ocorrida no cenário educacional, sobre os conteúdos significativos, sobre o planejamento de atividades, sobre a pedagogia de projetos e sobre a estruturação de um projeto, a partir de um relato de experiência.
Durante o desenvolvimento do projeto exposto acima, pode-se perceber o entusiasmo e a participação efetiva das crianças. Apesar de sua pouca idade, os objetivos propostos no início do trabalho, de possibilitar que os alunos conhecessem e cultivassem uma horta, que conhecessem seu ecossistema e se sensibilizassem sobre o fato de ser, a horta, fonte de alimentação e consumo, procurando ampliar seus horizontes no que tange à constituição e importância de uma horta para a alimentação e a possibilidade de inserir outras atitudes frente aos seres vivos em questão, bem como, ampliar seu entendimento quanto aos hábitos alimentares em sua dieta diária, foram alcançados plenamente, concretizando-se em suas vidas a idéia da interdependência existente entre os seres vivos.
O trabalho gerou um senso de responsabilidade para com “coisas” naturais, para com seu próprio corpo e aguçou o senso de observação e investigação de todos. Envolveram seus familiares não somente quando do resultado final, mas em todo o processo, construindo a consciência de que este é o mundo de que dispõem para viver e que o cuidado de todos para com todos é primordial para uma convivência harmoniosa e saudável, transmitindo esta idéia para seus pares. Também se conseguiu o envolvimento da comunidade traduzido por sua participação, inquietação e envio de material, numa atitude colaborativa para com o trabalho proposto.
Em suma, o saldo positivo deste trabalho foi grande, foi prazeroso efetuá-lo e este é um dos motivos de sua circulação neste momento.
Profª. Marilene LimaPsicóloga - CRP n.º 06/68588; Mestre em Educação: História, Política, Sociedade; Coordenadora da Edukaleidos Consultoria; Consultora ad hoc em instituições de ensino e do terceiro setor. São Paulo/SP,